O indígena: História, Cultura e Sociedade

 

A atual sociedade brasileira começou a ser construída a partir dos primeiros contatos entre indígenas e portugueses: duas sociedades distintas entre si - uma pertencente ao continente americano e a outra, à Europa Ocidental. O encontro entre o índio e o branco nem sempre foi amigável. Alguns documentos da época revelam que essas relações eram cheias de conflitos e intolerância.


A primeira descrição documentada que temos desse encontro é uma carta do escrivão Pero Vaz de Caminha, escrita em 1500 ao rei Dom Manuel, descrevendo o descoberta do Brasil e a impressão que o autor teve sobre os primeiros habitantes brasileiros. Confiram um trecho abaixo sobre esse primeiro momento do encontro entre os povos:

[...]

Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.

CAMINHA, Pero Vaz de. Trecho da Carta ao rei Dom Manuel, pág. 3

No período colonial, com a instalação da cultura canavieira, os indígenas foram escravizados por um período, e passaram a reagir com vigor. As rivalidades e os confrontos entre nativos e colonizadores perduraram por séculos e, ainda hoje, a questão indígena não está totalmente definida.

  • A questão indígena nos dias atuais
Como se pôde perceber, há um histórico de violência contra os nativos, desde a chegada dos portugueses ao Brasil. Este histórico caracterizado pelo preconceito e pela discriminação racial velada, ainda deixa marcas nas relações entre as comunidades indígenas e a sociedade brasileira.

Os indígenas ainda existem no Brasil, mas em número reduzido. Eles convivem com problemas bem maiores que na época do Descobrimento, como a luta para preservar sua identidade cultural. Dentre os povos originários remanescentes do território brasileiro temos alguns povos como: Yanomâmis, Baniua, Tucanos, Apurinã, Culina, Ticuna, Caxinauá (estabelecidos entre o Acre e Amazonas), Bororo, Camba, Terena (Mato Grosso do Sul e São Paulo), Caiouá, Nhandeva, Kaingangs ou Caiagangue (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo), Xacriabá, Pancararu, Cariri-Xocó, Fuln-iô, Xucuru, Potiguara, Guajajara, Maué, Uapixona e Macuxi.

Que fazem partem dos grandes grupos linguísticos como: Tupi-guarani, Jê ou Tapuia, Aruak e Karib que compartilham o mesmo idioma ou idiomas com uma origem em comum. Além disso, herdamos dos indígenas muitos costumes, que foram incorporados de alguma forma pelo nosso povo como:


Essas e muitas outras contribuições indígenas favoreceram a formação cultural do povo brasileiro. Hoje, o Brasil é considerado pluricultural, ou seja, um país com elementos de muitas culturas e uma riqueza especial.
  • Comunidades indígenas: etnias diversas
Entre as diversas etnias (significa 'gentio', o adjetivo deriva do substantivo ETHNOS, que significa gente ou nação estrangeira), pode-se observar que elas se distinguem umas das outras por meio da linguagem, das pinturas corporais e da arte plumária.

Entretanto, algumas características apresentam traços comuns, tais como: a habitação coletiva, a vida cerimonial, a produção de bebida fermentada, o artesanato como parte da vida diária, a educação das crianças compartilhada pelos membros da comunidade, e a culinária.

→ Como vive o indígena
Cada comunidade procura preservar sua língua, suas crenças, suas festas e suas atividades diárias e culturais. Com a preservação dessas heranças, os povos indígenas mantêm viva sua cultura. Os indígenas, ainda hoje, caçam, criam animais, tentam preservar sua identidade, embora tenham adotado novas práticas, como a venda de artesanato.

Existem cerca de 896 mil indígenas vivendo em aldeias por todo o Brasil, tanto nos lugares mais isolados da Amazônia como perto de grandes cidades. Eles se dividem em de 200 grupos que têm diferentes línguas, tradições e modos de vida. Nas aldeias, muita coisa mudou desde a chegada dos primeiros europeus. Em muitas delas, todo mundo passou a vestir roupas e a calçar sapatos, a usar computadores e a falar a língua portuguesa.


Eles produzem sua própria alimentação, os homens caçam e pescam, as mulheres apanham frutos, cultivam e preparam os alimentos. Além disso, alguns indígenas recebem salário trabalhando fora da aldeia ou com o dinheiro da venda de produtos feitos pelo grupo; as meninas fazem cestos e os meninos, pequenos arcos e flechas para se divertirem com esse tipo de brincadeira, eles aprendem tarefas que vão fazer quando crescerem.
  • As reservas indígenas: direitos assegurados
Em 1910 foi criado o SPI (Serviço de Proteção ao Indígena), com o objetivo de proteger os índios, esse órgão estabeleceu um documento, o Estatuto do Índio, prevendo que os direitos dos indígenas fossem garantidos por lei, mas para requererem a sua emancipação, os indígenas precisavam se integrar à cultura brasileira.

O presidente Getúlio Vargas, com o Decreto-Lei 5.540 de 1943, estabeleceu o dia 19 de abril como o Dia do Índio ou Dia dos povos originários, relembrando a participação dos indígenas no 1º Congresso Indígena Interamericano, realizado no México. Nesse mesmo Congresso, foi criado o Instituto Indigenista Intamericano, com o objetivo de zelar pelos direitos dos indígenas na América.

A demarcação de terras, como área de proteção às comunidades indígenas, foi liderada por Orlando Villa-Boas, em 1941. Em 1961, foi criada a primeira reserva, o Parque Indígena do Xingu, para que os povos nativos da região pudessem manter as suas tradições.

Em 1967, com a criação da FUNAI (Fundação Nacional do Índio), as políticas de proteção às comunidades indígenas foram reforçadas. As terras demarcadas pela FUNAI pertencem ao governo brasileiro, diferentemente do modelo norte-americano, em que as terras pertencem aos povos indígenas.


Os indígenas brasileiros participaram ativamente para que seus direitos fossem contemplados na Constituição de 1988. Mas, ainda hoje, nem todas as suas terras foram demarcadas pelo governo. Os indígenas continuam a enfrentar pessoas e grupos que muitas vezes desrespeitam suas terras e seus direitos.

Além da demarcação de Terras Indígenas, outra maneira de preservar uma cultura é manter a sua língua viva. A língua de um povo carrega suas histórias, sua maneira de interagir com o mundo, seus hábitos, etc.
  • Referências
BARBOZA, Fabiana; NASCIMENTO, Eliane. Projeto cultura indígena e africana 5º ano. Ensino fundamental. Recife: Editora Luz do saber.

CAMINHA, Pero Vaz de. A carta de Pero Vaz de Caminha. Disponível em: http://www.nead.unama.br/ NEAD - Núcleo de Educação a distância. Unama - Universidade da Amazônia.

MARSICO, Maria Teresa [et al.] Povos indígenas na atualidade e seus direitos IN: Marcha Criança: história e Geografia 5º ano. 14ª ed. São Paulo: Scipione, 2019.

OLIVEIRA, Letícia Fagundes de; ALVES, Alexandre. Direito indígena: a luta pelas terras IN:Ligamundo história, 5º ano. 1ª ed. São Psulo: Saraiva, 2017

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