As conquistas bárbaras

 

Para explicar sobre as conquistas bárbaras, primeiramente devemos relembrar como ocorreu a transição da Europa medieval. O termo "bárbaro" não deriva de um grupo cultural específico e foi usado por gregos e romanos para descrever culturas que eles julgavam primitivas e que baseavam as conquistas mais pela força física do que pelo intelecto.

Essa visão, ligada à violência, foi estendida pelos romanos que passaram a nomear "bárbaros" os povos que não partilhavam de sua cultura, língua e costumes. Ainda assim, os romanos consideraram essas tribos como guerreiros destemidos e corajosos. Hoje, o termo "bárbaro" é aplicado para descrever quem se utiliza de violência em excesso sem refletir em seus atos e prejudica, assim, aos demais cidadãos.

Segundo o historiador Jérôme Baschet, a tradicional expressão "Invasões Bárbaras" é usado de forma conotativa negativa adquirida por este termo tornar difícil pois reproduz um julgamento do valor que faz de Roma o padrão da civilização e de seus adversários os agentes da decadência, do atraso e da incultura. Por isso, é de bom tom substituir a expressão de povos bárbaros por povos germânicos.

  • Transição da Idade Medieval
Alguns historiadores europeus adotaram a data da queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C., como marco inicial da Idade Média. Entretanto, o processo que levou ao colapso do império começou por volta do século III, quando os povos romanos começaram a enfrentar uma grave crise.

Os gastos para vigiar as fronteiras e impedir as invasões germânicas (eram considerados povos germânicos de origem indo-europeia, habitavam a Europa Ocidental. As principais  nações germânicas eram: os visigodos, ostrogodos, vândalos, bretões, saxões, francos etc.) eram enormes. 


Para combatê-los, o governo aumentou os impostos. Ao mesmo tempo, o império deixou de conquistar novos territórios, provocando a redução da mão de obra escrava, a queda na produção e o aumento dos preços dos alimentos, o que incitou diversas revoltas. Com as sucessivas invasões germânicas, as estradas romanas foram arrasadas e as cidades, saqueadas. O comércio decaiu e a fome agravou-se. Muitas pessoas acabaram fugindo para o campo, iniciando um processo de ruralização da sociedade europeia.
  • Os bárbaros e o Império Romano

O Império Romano se espalhava pela Europa e pela África do Norte, conquistando várias tribos e povos. Alguns destes lutaram de maneira violenta contra o exército romano, que passou a classificá-los como bárbaros.

Nem sempre, contudo, romanos e bárbaros estiveram guerreando. Por volta dos séculos IV d.C. e V d.C., várias tribos foram incorporadas ao Império como federados e os romanos arregimentavam jovens soldados góticos e vândalos para seu exército. Por isso, várias tribos puderam se estabelecer dentro das fronteiras do Império Romano.


Faziam parte dos povos considerados Bárbaros os povos Godos, Hunos, Magiares, Pictos, Vândalos, Francos bem como alguns povos nórdicos (como os Vikings) e eslavos. Iremos adentrar um pouco mais sobre as migrações desses povos a seguir.

  • As Migrações germânicas
Foi nesse contexto de profundas crises, com o exército romano desmantelado, que houve deslocamentos de povos germânicos (vândalos e alanos) por volta de 405-6, com o congelamento do Rio Reno. Esses povos que mantinham um modo de produção comunal primitivo, com os contatos comerciais com os romanos, desde o século I, alteraram ao longo do tempo sua estrutura social, tornando-a mais complexa, com uma estratificação social maior, com classes sociais e com a formação de um sistema cortesão.

Esses povos germânicos ocidentais ocuparam áreas habitadas originalmente pelos celtas, ao leste do Reno, ainda antes da era cristã. Em 150 d.C., os germânicos orientais estavam presentes nos Cárpatos, ao norte do Mar Negro.

Os vândalos, após saquear Roma em 410, transferiram-se depois para a Aquitânia, onde fundaram o reino de Toulose. Os suevos fundaram um reino na Galícia (Espanha) que durou de 411 a 585, quando foram conquistados pelos visigodos.

O império romano reconheceu o território dos vândalos, que compreendia parte da Espanha e do norte da África, como reino independente em 442. A derrota dos hunos na batalha dos Campos Catalanos em 451 e a morte de seu líder Átila em 453 libertou as tribos germânicas da região do Danúbio do domínio dos hunos. Os ostrogodos atingiram a Grécia e a Itália e os anglos e saxões ocuparam as ilhas britânicas.

→ Vikings

Eram povos que habitavam a Escandinávia, que começaram a saquear as regiões costeiras da Europa no século VIII. Grandes navegadores, descobriram a Islândia no século IX e a Groenlândia no século X. É possível que tenham atingindo o continente americano e colonizaram o norte da Escócia e da Irlanda, bem como o nordeste da Inglaterra, veja o mapa abaixo:


Após a morte de Carlos Magno, chegaram a desembarcar na entrada dos principais rios do reino franco, inclusive em 886, sitiaram Paris por meio do rio Sena. Esse sítio foi iniciado no dia 28 de março de 845, por um viking chamado Ragnar onde liderou o ataque que ficou conhecido como Cerco a Paris. Ele comandou um exército de cerca de quatro mil homens, invadindo a cidade pelo Rio Sena com 120 navios.

Para revidar o ataque, Carlos, o Calvo, Rei da França Ocidental, reuniu um pequeno exército. Quando os vikings derrotaram uma divisão composta por metade desse exército, as forças restantes bateram em retirada. Ragnar tomou 111 dos homens como prisioneiros, enforcando-os numa ilha no Sena. Isso foi feito como forma de honrar o deus nórdico Odin. A matança também serviu para incitar o terror nas forças inimigas remanescentes.

A invasão teria sido motivada por uma vingança pessoal de Ragnar. Em 841, ele havia recebido uma porção de terras de Carlos, o Calvo, em Torhout, na Frísia. Algum tempo depois, ele perdeu essas propriedades, assim como o apoio do rei. Depois de saquearem e ocuparem a cidade, os vikings finalmente liberaram Paris após receberem um pagamento de 7 mil libras francesas, equivalentes a 2570 quilos de prata e ouro. 

→ Eslavos

Grupo da família indo-europeia, os eslavos cruzaram o Danúbio por volta do ano 600 e atingiram a Grécia. A Macedônia e a Dalmácia foram conquistadas por volta de 640. Existem três principais grupos: eslavos ocidentais (poloneses, tchecos, eslovacos), eslavos orientais (russos) e eslavos meridionais (búlgaros, sérvios, croatas).

Os povos eslavos são um grupo étnico e linguístico que habita principalmente a Europa Central e Oriental. Eles incluem os russos, ucranianos, poloneses, tchecos, eslovacos, búlgaros, sérvios, croatas, eslovenos, entre outros. A cultura e a história dos povos eslavos são bastante ricas e diversas.

  • A conquista territorial

Após o intenso movimento migratório ocorrido no século V, aos poucos as tribos germânicas foram se fixando num determinado local e seus membros misturando-se aos romanos. Foi o necessário para o surgimento de novos reinos, cuja base social, política e econômica resultava da fusão da cultura dos bárbaros com a dos romanos.

Dentre os novos reinos formados no território do ocidente europeu merecem destaque:

- Vândalos, no norte da África;

- Ostrogodos, na península Itálica;

- Visigodos, na península Ibérica;

- Anglo-Saxões, na Britânia (atual Inglaterra);

- Francos, na Europa central (atual França).


  • Referências

BASCHET, Jérôme. Capítulo 1 - Gênese da sociedade cristão: a alta idade média IN: A civilização feudal - do ano mil à colonização da América. Trad. Marcelo Rede; prefácio Jacques Le Goff. São Paulo: Globo, 2006

BEZERRA, Juliana. Povos Bárbaros. Toda Matéria[s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/povos-barbaros/. Acesso em: 26 abr. 2023

CAMARGO, Nelson José de. Os povos germânicos, nórdicos e eslavos IN: Sistema Didático de ensino (ensino fundamental e médio). Coordenação Izabel Cristina de A. G. Rodrigues. Ed. Didática Paulista, ano (?).

GONÇALVES, Bruno Álvaro. Aula 2 - Do Império Romano aos reinos germânicos. IN: História Medieval. CESAD/UFS

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