As Reformas Religiosas

Durante a Idade Média, a Igreja católica era o principal centro de poder na Europa. Sua influência era tamanha que reis e senhores feudais recorriam a ela para governar. Tanto poder terreno distanciou a Igreja dos assuntos espirituais. Para muitos de seus integrantes, riqueza e prazeres físicos tornaram-se mais importantes do que a fé. Essa inversão de valores pôs em xeque a credibilidade da instituição.

Além das disputas políticas envolvendo o alto clero, pesaram sobre a instituição denúncias de corrupção e outras acusações de ordem moral. Diante desse cenário, alguns filósofos cristãos, influenciados pelo pensamento humanista, passaram a responsabilizar a Igreja e seus dogmas pela perpetuação da miséria e da ignorância na sociedade europeia.

Diante disso, gerou um movimento conhecido como Reforma Protestante, também chamado de Reforma Religiosa, que se iniciou no século XVI e foi responsável por criar diversas novas igrejas, quebrando a unidade religiosa no Ocidente. Esse movimento tiveram diversos percursores, mais dois em especiais foram os principais que deram o pontapé inicial:


Ambos condenavam veementemente a venda de indulgências (perdão dos pecados) e defenderam a formação de uma igreja livre dos dogmas impostos pela Igreja Católica, as ideias de Wyclif e Huss foram assimiladas por muitos cristãos, que passaram a contestar a autoridade do papa.

  • Fatores do Movimento reformista
Diversos fatores contribuíram para o crescimento do movimento reformista no século XVI, porém quatro delas devemos ter uma atenção especial para que se compreenda os motivos que levaram idealizadores como Martinho Lutero, João Calvino e o rei Henrique VIII a lutarem contra as imposições e dogmas católicas a lutarem contra e gerar uma reforma religiosa própria.

  • Reforma Luterana
A Reforma Luterana foi iniciada na Alemanha, que até então fazia parte do Sacro Império Romano-Germânico no século XVI. O responsável foi Martinho Lutero (1483 - 1546), que foi um monge e professor da Universidade de Wittenberg na atual Alemanha.


Lutero era contrário a venda das indulgências, isto é, a venda do perdão dos pecados. Ao redigir o documento que ficou conhecido como as 95 teses no ano de 1517, ele fixou na porta da Igreja local um texto em que criticava com rigor a troca das penitências por dinheiro. Além disso, afirmava que a única verdade (conhecido como dogmas) estava nas Escrituras Sagradas, ou seja, a verdade está na Bíblia. Dos sete sacramentos da igreja católica, Lutero manteve apenas dois: o batismo e eucaristia. 

Por causa disso, foi excomungado pelo papa em 3 de janeiro de 1521 e banido pelo imperador do Sacro Império, Carlos V sendo considerado inimigo da igreja católica. Com a ruptura definitiva, Lutero passou a atacar Roma abertamente, as propostas de Lutero se espalharam rapidamente e algumas autoridades da Europa, pressionadas pela população foram obrigados a expulsar sacerdotes católicos das igrejas e substituí-los por religiosos que apoiavam a doutrina luterana. 

Em 1529, o imperador Carlos V exigiu que príncipes e nobres sob seu domínio proibissem o culto luterano inclusive essas exigências provocaram vários protestos e revoltas, e os principados e centros urbanos que não acataram a ordem real ficaram conhecidos como Estados protestantes. As hostilidades durou até 1555 quando o imperador assinou um acordo chamado: 

→ Paz de Augsburgo: acordo de paz assinado em 1555 entre as tropas imperiais e os partidários da reforma luterana (nobres protestantes). 

→ Doutrina Luterana

O movimento reformista nos territórios alemães desdobrou-se em outros conflitos. Thomas Müntzer (1490 - 1525), discípulo de Lutero, passou a liderar um grupo religioso formado por camponeses, conhecidos como anabatistas. Eles pregavam que os fiéis deveriam ser batizados outra vez na idade adulta. Também reivindicavam algo que não agradava aos nobres: a divisão das terras da Igreja entre os mais pobres. Lutero, que contava com o apoio dos nobres, acusou os anabatistas de radicais e incentivou os nobres a reprimir o movimento, o que resultou na morte de mais de 100 mil camponeses.
  • Reforma Calvinista
Inspirado no luteranismo alemão, o francês João Calvino (1509-1564) publicou, em 1536, os fundamentos de seu pensamento. Como Calvino também criticou o rei francês pela perseguição aos luteranos, foi expulso da França.

Em 1541, ele assumiu a posição de chefe político e religioso da cidade de Genebra, governando-a de forma absoluta e intransigente. Suas pregações obtiveram rápida aceitação na Suíça, área que, em 1499, tinha se separado do Sacro Império Romano-Germânico.

Para Calvino, apenas as pessoas predestinadas por Deus teriam direito à salvação na vida eterna. Um dos sinais dessa predestinação seria o sucesso no trabalho e nos negócios. As pessoas tinham de levar uma vida frugal, trabalhar, guardar dinheiro e investir suas economias na criação de novas oportunidades de trabalho.

→ Ideias Calvinistas
O culto e às práticas religiosas eram simples e rigorosas, restringindo-se a comentários da Bíblia, preces e cantos. Além disso, assim como no luteranismo, imagens não eram admitidas e só os sacramentos da eucaristia e do batismo eram aceitos.

→ Comportamento social
Os pastores (ministros dos cultos) não eram considerados intermediários entre Deus e os humanos, mas simples fiéis encarregados da pregação e das preces. Além disso, os calvinistas tinham rígidas regras comportamentais como:

-Estavam proibidos de dançar;

-Jogar cartas;

-Ostentar sua riqueza;

-Ficar fora de casa depois das 9h da noite.

O sucesso econômico seria reflexo da predestinação do indivíduo: mercadores, banqueiros e artesãos eram vistos como os escolhidos para a salvação eterna. A miséria seria a demonstração concreta dos males e pecados humanos e devia ser combatida. Por isso, quem não alcançava sucesso econômico era marginalizado. Por reconhecer e exaltar o lucro e o trabalho, o calvinismo teve rápido acolhimento nas camadas burguesas europeias.

→ Calvinismo na Europa

Em cada país da Europa onde ocorreu a reforma calvinista, esta foi seguida de especificidades guiadas pela burguesia local. Cada local que adotava a reforma, tinham nomes dados aos seguidores de Calvino como:

  • Reforma Anglicana
Em 1527, o rei da Inglaterra, Henrique VIII (1491-1547), solicitou ao papa autorização para anular seu casamento com a espanhola Catarina de Aragão (1485-1536) com a qual havia tido somente uma filha, com a saúde comprometida, e assim inapta para ser sua sucessora no trono da Inglaterra. 


O monarca inglês aguardava a autorização do então papa Clemente VII (1478-1534) para casar-se com Ana Bolena (1507-1536) e resolver o seu problema de sucessão. O pedido não foi aceito visto que a igreja católica não aceita o divórcio e porque Catarina era tia de Carlos V, monarca que auxiliava a Igreja no combate aos luteranos. Em 1531, Henrique VIII toma a iniciativa do divórcio e obriga o Parlamento a votar uma série de leis que coloca a Igreja Católica inglesa sob o comando do Estado.

Em 1534, foi assinado o Ato de Supremacia que proclamava o rei Henrique VIII o chefe supremo da Igreja da Inglaterra, ou seja, a Igreja Anglicana. Neste caso, o Papa perdeu o poder sobre a igreja católica na Inglaterra que passa a ter um novo chefe político, o Rei. Essa medida contou com o apoio do Parlamento inglês e esse ato marcou de forma definitiva o rompimento com a Igreja Católica romana.

No final das contas, após a adoção da nova religião pelo reino inglês, o rei Henrique VIII usou de sua posição de chefe da Igreja Anglicana para obter o divórcio por mais quatro vezes, se casando no total por 8 vezes em busca de um filho do sexo masculino para o suceder, o que não deu certo. As mulheres desse rei foram:
  • Catarina de Aragão (perante a Igreja Católica, foi sua única esposa);
  • Ana Bolena (que foi uma das damas de companhia de Catarina de Aragão e sua amante, que depois foi condenada à morte);
  • Jane Seymour (faleceu em decorrência de complicações no parto);
  • Ana de Cléves (divórcio);
  • Catherine Howard (condenada à morte);
  • Catarina Parr (a única que sobreviveu ao rei Henrique VIII).
A Igreja na Inglaterra permaneceu, no início, muito parecida com a Igreja católica com relação à doutrina e ao cerimonial. Foi apenas com o reinado de Elizabeth I, filha de Henrique VIII com Ana Bolena que a igreja inglesa foi chamada de Anglicana, e se consolidou como religião de doutrina protestante.

A Igreja anglicana incorporou muitos princípios calvinistas, como a justificação pela fé, a valorização da pregação e a negação da autoridade papal, mas manteve o culto e a estrutura eclesiástica da tradição católica. Seus cultos eram ministrados em língua inglesa.
  • Contrarreforma e a Reforma Católica
Em resposta a Lutero e a todos que faziam críticas à Igreja, os católicos passam a tomar algumas medidas entre elas o fortalecimento da Inquisição, também conhecido como Tribunal do Santo Ofício. Os membros dessa ordem tinham autorização para perseguir e castigar todos os que fossem contra seus dogmas (verdades que deveriam ser respeitadas, ou seja, era um princípio das religiões, não apenas do cristianismo). 

Nesse sentido organizaram o Concílio de Trento (1545-1563) que trouxe o definitivo posicionamento da Igreja frente às críticas protestantes. Dentre as decisões mais importantes destacaram-se:

- Criado o INDEX (Índice de Livros Proibidos);
- Os tratados científicos como a Teoria Heliocêntrica de Galileu Galilei e de outros filósofos, foram considerados heresia;
- Perseguição a inúmeras pessoas que não concordavam com a Igreja Católica, e condenação a fogueira;
- Criação da Companhia de Jesus (ordem jesuítica).
  • Referências
AZEVEDO, Gislane; SERIACOPI, Reinaldo. Capítulo 13 - Fim da Idade Média, Renascimento e Reforma Protestante IN: Vol. 1 Dos primeiros humanos ao Renascimento. História - passado e presente (ensino médio). 1ª ed. São Paulo: Ática, 2016

BEZERRA, Juliana. Henrique VIII. Toda Matéria[s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/henrique-viii/. Acesso em: 9 abr. 2023

LIMA, Ederson Prestes Santos [et al.] Aula 8 - As reformas religiosas protestante e católica IN: História II. E-tec Educação a distância: Instituto Federal do Paraná: Curitiba, 2011.

VICENTINO, Cláudio; VICENTINO, José Bruno. Capítulo 5 - A Reforma Religiosa IN: Teláris História 7º ano. 1ª ed. São Paulo: Ática, 2018.

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