O reino de Gana

 

O território ao sul do deserto do Saara foi chamado pelos árabes de Sudão, palavra que significa “terra dos negros”. Os historiadores utilizam até hoje essa denominação para tratar dessa enorme região. É uma definição somente geográfica, que não contempla a quantidade de povos que lá habitam ou habitaram. No Sudão viviam povos de cultura, língua e sociedade muito diferentes entre si. As guerras eram constantes, reinos dominavam outros reinos e cidades para depois serem também dominados.

  • Breve História
O reino de Gana foi um dos primeiros impérios africanos a surgir na região do Sudão, entre os séculos VI e XIII. Sua origem é incerta, mas acredita-se que tenha sido fundado por um povo chamado soninquês, que falava uma língua mandê.

O Império de Gana, também denominado Wagadu ou Uagadu, foi uma das primeiras organizações políticas africanas que abarcou uma grande extensão territorial no continente esse reino começou a se expandir quando passou a estabelecer contato com os povos da região norte do continente, como os talmacheq e outros povos de cultura bérbere. Já no século VI, ocorreu, em seu território, a domesticação do camelo, o que permitia a cobertura de rotas mais longas pelos guerreiros e comerciantes, isso sem contar o início de comunidades pastoris nas regiões do Saara.


O reino de Gana prosperou graças ao comércio de ouro, sal e outros produtos com o norte da África e a Europa, e foi um poderoso império do continente africano, com territórios abrangendo os atuais Mali e Mauritânia, em uma área de transição entre o Deserto do Saara e as florestas tropicais, e sem saída para o mar.

A capital do reino era Kumbi Saleh, uma cidade dividida em duas partes: uma islâmica, onde viviam os comerciantes e os funcionários do governo, e outra animista, onde residia o rei e sua corte. O rei de Gana tinha poder absoluto sobre seus súditos e era considerado sagrado, ele controlava a produção e a distribuição do ouro, que era usado como moeda e símbolo de prestígio. 

  • Comércio
Entre os séculos IX e XV, surgiram importantes reinos na região conhecida como Sudão Ocidental, a exemplo de Gana, Mali e Songai, os quais ficaram famosos pelo controle das minas de ouro e das rotas de comércio da região norte africana. Tais reinos comercializavam com várias regiões do mundo, como a Europa, a Península Árabe e o Oriente.

Tal comércio (com destaque para ouro, sal e marfim) era feito através de rotas de caravanas que atravessaram o deserto do Saara, bem como através de rotas marítimas que, vencendo o Oceano Índico, atingiam a Índia e a China. Além do comércio, havia igualmente as trocas culturais e de conhecimentos.

Embora apresentasse o comércio, a agricultura e a criação de gado como atividades econômicas de destaque (sua posição era estratégica para as rotas mercantis entre norte da África, Egito e Sudão), a riqueza de Gana estava na extraordinária quantidade de ouro extraída do subsolo. 

→ Produção aurífera

Sua produção era tanta que permitia manter cidades como a capital Kumbi Saleh, com mais de 15 mil habitantes e um poderoso exército com 200 mil soldados, dos quais 40 mil eram arqueiros, que protegiam as rotas comerciais que cruzavam o país.

Dentre os principais produtos comercializados eram o sal (raro nas savanas e que apresentava quase o mesmo valor do ouro), tecidos, cavalos, tâmaras, escravos e ouro. Toda a atividade comercial era controlada pelo Estado. Entre os centro urbanos-comerciais mais importantes, destacava-se a cidade de Bambuque. O ouro era muito negociado com os árabes, que o usavam para fabricar moedas.

No século VIII, caravanas atravessavam o deserto do Saara levando mercadorias. Era o chamado comércio transaariano, dominado por mercadores árabes. Viajantes da época descreveram que o rei e os escravos de Gana usavam vestimentas, acessórios e adornos feitos em ouro. Acredita-se que a concorrência comercial e os ataques vizinhos enfraqueceram Gana, que se fragmentou em vários pequenos Estados.
  • Sociedade

Curiosamente, esse reino não foi um império expansionista - não pretendia ampliar seu território conquistando outros povos. As populações ganeses, contudo, tinham que trabalhar nas terras da nobreza, pagar tributos e servir como soldados ao rei, o qual tinha o título de “Gana”, ou seja, “senhor do ouro”, daí o nome do reino, embora as pessoas chamassem aquelas terras de Uagadu (País dos Rebanhos).

A sucessão de Gana, como em alguns outros povos africanos, era matrilinear: era o filho da irmã do rei que herdaria o trono. O rei era rodeado de pompa - usava roupas de luxo e colares de ouro. Ao avistar o monarca, todos batiam palmas, curvaram-se até o chão e jogavam areia sobre as cabeças.

Tinham como religião o politeísmo a princípio, entre as divindades mais cultuadas de Gana estava o Deus-Serpente - inclusive, a serpente era tida como guardiã do Estado, e quando o rei morria, uma era trazida para escolher o novo monarca, ao picar um dos pretendentes. Depois, boa parte de Gana converteu-se ao islamismo.

  • Declínio

Gana atingiu seu auge no século VIII, com a dinastia Tunkara que entrou em declínio entre os séculos IX a XI, devido a vários fatores, como:

- as invasões dos almorávidas, uma dinastia muçulmana que tentou impor o islamismo na região;

-as secas que afetaram a agricultura e o pastoreio;

-a ascensão de novos reinos concorrentes, como Mali e Songai.

O reino de Gana desapareceu por volta do século XIII (por volta de 1240, quando o país foi conquistado pelo povo Mali), mas deixou um importante legado cultural e histórico para a África Ocidental.

  • Referências

ALFAGALI, Crislayne Gloss Marão [et al.]. Unidade 2 - África: da Era Cristã ao século XV IN: História da África. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018.

FARIAS, José Airton de. Gana IN: Uma breve história da África. SAS: Sistema Ari de Sá. São Paulo.

VAINFAS, Ronaldo [et al.] Capítulo 12 - Reinos ao sul do Saara IN: História.doc 6º ano. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

VICENTINO, Cláudio; VICENTINO, José Bruno. Capítulo 5 - África: diversidade de povos e reinos IN: Teláris História 6º ano. 1ª ed. São Paulo: Ática, 2018.

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