Os árabes e o mundo islâmico

Após a consolidação do mundo bizantino, na região do Oriente Médio - mais precisamente na Arábia - diversos povos se uniram em torno de uma nova religião, o islamismo. Com isso, a cultura árabe-islâmica se expandiu por diferentes locais, como o norte da África e a península Ibérica.

  • Arábia pré-islâmica
A civilização árabe-islâmica surgiu e irradiou-se a partir da península Arábica, situada no sudoeste da Ásia (veja o mapa). A região apresenta clima quente e seco, com cerca de 80% de seu território constituído por desertos.



Até o século VI, os vários povos da península Arábica tinham diferentes formas de viver. Historiadores costumam classificá-los em dois grandes grupos, conforme suas características culturais:



Essa região não tinha unidade política, ou seja, , um Estado unificado, até o século VII. Os povos ligavam- -se uns aos outros pelos laços de parentesco e por elementos culturais comuns — falavam o mesmo idioma (apesar das variações regionais) e possuíam crenças religiosas politeístas.

Na cidade de Meca havia um templo chamado Caaba, com os ídolos das principais divindades cultuadas à época e a Pedra Negra, considerada sagrada pelos árabes. No contexto do islamismo, a pedra foi recebida por Abraão das mãos do anjo Gabriel. A Pedra Negra, provavelmente um pedaço de meteorito, está encravada em um dos cantos da Caaba. O conjunto fica ao centro da Grande Mesquita de Meca, na Arábia Saudita.

A existência desse templo faz de Meca um importante ponto de encontro dos povos da região. Além disso, a cidade transformou-se no principal centro comercial dos árabes, recebendo pessoas e mercadorias de diversos locais.
  • Expansão islâmica
A construção do Estado árabe iniciou-se com Maomé (570-632), um mercador da cidade de Meca. Maomé fundou o islamismo, religião monoteísta cujos seguidores também são chamados de muçulmanos.

O governo de Meca era exercido por um conselho e um clã. A partir de 613, contudo, um condutor de caravanas chamado Maomé passou a proclamar a existência de um único Deus, que chamou de Alá, e denominava sua religião de islã, que quer dizer “submissão a Deus”.

Para os grandes comerciantes de Meca, o monoteísmo de Maomé podia afastar os peregrinos e afetar o comércio. Hostilizado por eles, em setembro de 622 (pelo calendário cristão) Maomé fugiu para a cidade de Yatrebe.

Essa viagem, conhecida como hégira (emigração), marca o início do calendário da nova religião difundida por Maomé. Os seguidores do islamismo passaram a ser chamados de muçulmanos (muslim, em árabe, cujo radical linguístico é o mesmo da palavra islã).

Os princípios básicos da religião estão reunidos no livro sagrado do Corão ou Alcorão, que inclui preceitos jurídicos, morais, econômicos e políticos que orientam o cotidiano da vida social. Proíbe, por exemplo, que os fiéis comam carne de porco, consumam bebidas alcoólicas ou pratiquem jogos de azar. O roubo é severamente punido. A poligamia masculina (casamento do homem com mais de uma mulher) é permitida. 

Dentre os Princípios básicos informados, destacam-se:
  • → crer em Alá, o Deus único, e em Maomé, seu profeta;
  • → fazer cinco orações diárias com o rosto voltado para a direção de Meca;
  • → ser generoso com os pobres e dar esmolas;
  • → cumprir o jejum religioso durante o Ramadã (mês sagrado);
  • → ir em peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida, se houver condições físicas e financeiras.
Em Yatrebe, que posteriormente passou a se chamar Medina (Cidade do Profeta), surgiu a primeira comunidade regida por princípios islâmicos. Sob a liderança de Maomé, o governo da cidade se tornou teocrático: como representante de Alá na Terra, o profeta assumiu as funções de juiz, líder espiritual, militar e administrativo.

Como chefe militar, Maomé organizou ataques às tribos vizinhas e às caravanas que cruzavam o deserto. Ele afirmava que a luta contra as pessoas que não seguiam o islã era um “esforço em favor de Deus”, ou seja, um jihad. Aqueles que morressem em prol da fé muçulmana seriam considerados mártires e, como recompensa, conquistariam a salvação eterna no paraíso, inclusive foi devido a difusão dessa crença, que atualmente temos os homens-bombas que são os seguidores mais extremistas desse povo.

Após a morte de Maomé, os islamitas se dividiram em duas facções para definir seu sucessor: os sunitas acreditavam que deveria ser escolhida a pessoa mais capacitada (a palavra árabe sunni significa “aqueles que seguem os costumes”) e os xiitas defendiam que o sucessor de Maomé deveria ser seu parente mais próximo por consanguinidade, no caso, seu primo e genro, Ali (xiita vem do árabe shi’at Ali, ou seja, “partido de Ali”).

Ainda hoje os muçulmanos se dividem entre sunitas (84%) e xiitas (16%). Os sunitas acreditam que a autoridade espiritual pertence à comunidade islâmica como um todo; os xiitas afirmam que o líder da comunidade, o imã, é quem deve centralizar o poder.


Os sunitas saíram vitoriosos. Abu-Bakr, sogro de Maomé, foi o escolhido com o título de halifa (em português, califa), palavra árabe que quer dizer “sucessor”. No entanto, enquanto Maomé era considerado profeta pelos muçulmanos, os califas eram encarados apenas como líderes políticos e religiosos. Quando Abu-Bakr morreu, em 634, praticamente todas as tribos da península Arábica já haviam se convertido ao islamismo. Seu sucessor, Omar ibn al-Khattab, deu início à expansão externa da península Arábica, que resultou na formação de um grande império.

  • Formação do Império Islâmico
Após a morte de Maomé e sob a liderança dos Califas, ocorreu uma expansão territorial. Essa expansão se deu por várias razões, entre elas: a busca de terras férteis; o interesse na ampliação das atividades comerciais; e as guerras santas contra os “infiéis”, ou seja, a luta para difundir e preservar o islamismo.

Essa expansão pode ser compreendida em três grandes momentos:
  • Primeiro momento (632-661) - período dos califas eleitos que sucederam Maomé. Conquistas da Pérsia, da Síria, da Palestina e do Egito.
  • Segundo momento (661 - 750) - período da dinastia dos califas Omíadas. A capital foi transferida para Damasco. Conquistas do noroeste da China, do norte da África e de quase toda a península Ibérica. O avanço árabe (ou sarraceno) ao Reino Franco foi barrado por Carlos Martel, na Batalha de Poitiers, em 732.
  • Terceiro momento (750 - 1258) - período da dinastia dos califas Abássidas, marcado pela ascensão dos persas rumo ao mundo islâmico. Nessa fase, a capital foi transferida para Bagdá. As conquistas muçulmanas ainda avançaram pela Europa, na parte sul da península Itálica, na Sicília e na Sardenha. 

Os arcos árabes que decoram essa catedral em Córdoba, na Espanha, denotam a dominação árabe na região durante a Idade Média. Foto de 2015.

  • Declínio do Império
A partir do século VIII, o poder central nos vários territórios conquistados pelos muçulmanos passou a enfrentar crises internas provocadas, em sua maior parte, pelas rivalidades entre os califas. Essas disputas levaram ao desmembramento do Império Islâmico e à formação de Estados muçulmanos independentes, como o de Córdoba (na atual Espanha) e o do Cairo (no atual Egito).

No plano externo, os árabes enfrentaram a reação de povos cristãos. Na península Ibérica, por exemplo, os cristãos uniram-se para expulsá-los de seus territórios. No Oriente, entre os séculos XIII e XV, uma série de povos invasores acabou conquistando os territórios dominados pelos árabes.

No entanto, o islamismo manteve seu predomínio em grande parte dos novos Estados que surgiram com o fim do Império Islâmico. A expansão deles chegaram à península Ibérica em 711 e ficaram por quase oito séculos, quando foram expulsos. Assim, o domínio árabe impactou fortemente as culturas dos povos português e espanhol, que chamavam os árabes de mouros ou sarracenos.

Até hoje, a exuberante arquitetura árabe destaca-se em ruas, praças e construções das cidades de Portugal e, especialmente, da Espanha. Comidas, música e roupas — além de muitas palavras dos idiomas português e espanhol — também demonstram a influência árabe.

A religião desses povos também é praticado no Brasil, compondo o pluralismo religioso brasileiro. O primeiro grupo de muçulmanos a vir para o Brasil era constituído de africanos escravizados. A Revolta dos Malês, ocorrida na Bahia, em 1835, foi uma rebelião de escravos africanos muçulmanos, mais sobre essa revolta veremos em uma outra oportunidade.
  • Cultura árabe
Durante a Idade Média, os árabes assimilaram e reelaboraram produções culturais de diversos povos, criando, ao mesmo tempo, uma cultura rica e singular.

Em muitas situações, eles difundiram aspectos econômicos e culturais do Oriente e do Ocidente. Foi, por exemplo, por intermédio deles que chegaram à Europa inventos dos povos orientais, como a bússola, a pólvora e o papel. E também muitos textos da Antiguidade Clássica, como as obras de Aristóteles.

→ Outras contribuições:

Matemática - introduziram os algarismo hindus (chamados de indo-arábicos, ex.: 1,2,3 e assim por diante) bem como o numeral zero (0).
Medicina - descobriram técnicas cirúrgicas e revelaram as causas de doenças contagiosas
Química - descobriram substâncias como o ácido sulfúrico, o salitre e o álcool, além de terem desenvolvido o processo de utilização de diversos elementos químicos;
Idioma - a expansão islâmica levou à difusão do idioma árabe, a “língua oficial” do mundo islâmico, e hoje diversos idiomas contam com palavras de origem árabe, inclusive o português;
Astronomia - os árabes construíram observatórios planetários e aperfeiçoaram o astrolábio grego;
Arquitetura - destacam-se as mesquitas, sustentadas por grandes colunas, com arcos em forma de ferradura e enormes cúpulas.

  • Referências
AZEVEDO, Gislane [et al.] Capítulo 9 - Mundo árabe-muçulmano IN: História - passado e presente vol. 1 [ensino médio]. 1ª ed. São Paulo: Ática, 2016. págs.: 174 - 183

COTRIM, Gilberto. Capítulo 11 - Mundo islâmico IN: História Global vol. 1 [ensino médio]. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016. págs.: 146 - 154


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